Lobão e o " Guia Politicamente Incorreto dos anos 80 pelo Rock" .
Estamos vivendo no Brasil um
período politicamente e psiquicamente conturbado, não que antes fosse
diferente, mas com o recente impeachment e as manifestações pró e contra o
agora ex-governo Petista, ambas amparadas e financiadas por grupos nada
imparciais tudo foi ao extremo, a cegueira ideológica está à direita e a
esquerda, polaridade duvidosa onde os lados muitas vezes se confundem, é
nesse contexto, no ano da graça de 2017 que se insere o livro de Lobão, o “Guia Politicamente Incorreto dos anos 80 pelo Rock”, vale dizer que está
expressão “politicamente incorreta” tem dois viés, a de quem quer ser, por
exemplo, racista ou homofóbico “em paz", entre outros absurdos sem ser
rechaçado e apontado como a mentalidade podre e típica do nosso atraso e o da
pessoa que não pode inserir um palavrão, gíria ou coisa que vá desagradar algum
arauto da moral sempre de plantão, claro quando o convém.
A grande mídia no Brasil tem
o hábito de tachar de “polêmico (a)” qualquer pessoa que tenha opinião própria
e que não necessariamente pretenda agradar alguém que não seja a si e
Lobão é a personificação desse modo de ser, o livro de leitura fácil, construído
de maneira inclusive didática e com metáforas engraçadas e expressões sempre
originais traz uma narrativa que deixa o leitor a imaginar o próprio Lobão
falando, é traçado um panorama amplo da década de 80, período que ressoa no imaginário
popular até hoje e cada vez mais é tratada em documentários e livros. Partindo ainda dos anos 70 e o espírito bicho-grilo, violão e praia que
refletiu na banda Blitz onde Lobão foi cofundador e que com sua linguagem
jovem, coloquial e moderna fez um meio termo entre o universo praieiro carioca
e o urbano e cosmopolita do rock, como não podia deixar evoca também a figura
pioneira e emblemática do amigo Julio Barroso que frente a Gang 90 acendeu a
new wave no Brasil.
Na parte dos desafetos, os
quais Lobão também elogia quando acha justo, bate em Chico Buarque durante
quase todo o livro, também em Caetano Veloso e Gilberto Gil, este último
aparenta ser “menos um pouco” criticado, em relação ao parasitismo dos grandes
nomes da MPB com o estilo " mão no ombro de quem chega depois" que
Lobão classifica como " máfia do dendê" concordo com a visão, não
necessariamente no grau de Lobão que tem seus motivos mais pessoais, vide a
discórdia dele com a dupla Baiana, principalmente Caetano, em relação a lei de numeração dos discos que ele encabeçou no inicio
dos anos 2.000, o presente foco é a questão ideológica polarizada e parcialidade de Lobão.
Toda leitura deve envolver
senso critico e concordar "bovinamente" com tudo o que é lido prova
no mínimo preguiça e falta de percepção, é nesse sentido que alguns pontos
sobre o livro merecem ser comentados, levando em conta a opinião de quem aqui
escreve e nada além, acredito que a critica “o livro é lindo em todas as
linhas” ou simplesmente resumi-lo já foi feita. Alguns pontos são: a
comodidade de Lobão ao tratar da esquerda e sua mentalidade de “oprimido” como
a “grande vilã de nossa história” colocando, por exemplo, a culpa
do aumento da criminalidade e do trafico de drogas no Rio de Janeiro ao governo
de Leonel Brizola e apontando Lula como informante do Dops, nesta ultima
acusação à fonte ( não citada por Lobão) é apenas a declaração de um ex-aliado, Romeu Tuma Júnior, seriam mais ataques a figuras “emblemáticas” ( por favor, sem nenhuma conotação de elogio a ambos) da esquerda no Brasil para
agradar um determinado público de direita ou um compromisso com fatos
históricos inquestionáveis? E a maneira nula e isenta que trata de Reagan e Thatcher, figuras
contraditórias, onde na Inglaterra a "dama de ferro" enfrentou
rejeição e governou em meio a greves e caos social, contexto que permitiu
a emergência do punk na Inglaterra como oposição a sociedade que deixava os
jovens sem perspectiva, Lobão como não poderia deixar, no capitulo referente a
1982 lembrou-se da Guerra das Malvinas, mas o real papel de Thatcher nessa
“lambança” passa batido, neste mesmo ano por não julgar relevante ou novamente
por questões políticas, o livro “Feliz Ano Velho” de Marcelo Rubens Paiva não
foi citado, fica o saudável questionamento, teria Lobão sentado ao lado da
direita e ignorados seus erros para apontar o dedo apenas para a esquerda de
maneira parcial?
Com seu posicionamento político Lobão
atraiu inúmeros “fãs” que fazem o estilo “Primeiro tiramos a Dilma e depois
não falamos mais nada” ou que se opõe e apoiam quem seus "semelhantes ideológicos" estão interessados, o que se reflete nos comentários de muitos deles nas suas postagens, vale dizer que essa parcela não é o tipo de público que
Lobão merece, pois apesar desse recente posicionamento politico destro ele não é um artista limitado esteticamente ou datado cantando
apenas os “grandes sucessos” há décadas, Lobão preza pela atualidade.
Levantar questionamentos é diferente de falar mal, não sou adepto de partido
político ou tenho compromisso estético-ideológico, de maneira alguma viso tirar
o mérito do livro, faço apenas um relato pessoal de quem acompanha e se
interessa pelo trabalho e a figura que Lobão representa.
Em relação
às informações, o livro contem três erros que passam despercebido para quem não
tem familiaridade com a História do Punk no Brasil, considero importante a
correção deles em edições posteriores: 1º: O primeiro Lp do Cólera " Tente
mudar o Amanhã " não foi gravado no Teatro Lira Paulistana e sim nos
Estúdios Vermelhos, 2° : A invasão da policia no Festival " O começo do
fim do mundo " não teve queima de documentos relacionados à ditadura, esse
fato ocorreu no festival da PUC ( 28/08/1982) e o 3º a letra creditada ao Ratos
de Porão - Descanse em Paz que ocupa três páginas do livro não é da banda e
pesquisando constatei ser de um grupo de rap.
Lobão é
sem duvida um dos grandes artistas do Brasil e no “Guia Politicamente Incorreto
dos anos 80 pelo Rock” escreve com propriedade, pois faz parte
do alicerce cultural dessa década e é um sobrevivente, tanto do período, onde
alternou entre a fama pela música e seus problemas pessoais, sendo usado como “bode
expiatório” das autoridades e enfrentando sucessivas prisões, quanto
sobrevivente também da posterior década de 90, onde músicos inclusive consagrados
nos anos 80 viram sua fama e prestigio decair ou até mesmo esvaecer-se, fora
das grandes gravadoras partiu para a independência e se mantém ativo até hoje.
Lobão é necessário para uma época onde as pessoas foram educadas na comodidade virtual e só se atentam
para quem concorda com suas ideias, afinal de contas ouvir e ler quem pensa
diferente de você te faz “treinar” seus argumentos, agita os seus sentidos e te
propulsiona para frente e não para a direita ou esquerda.
Ótimo texto
ResponderExcluirObrigado Anna !
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